Cega desde criança, Fanny Crosby
tornou-se a maior autora de hinos sacros de toda a História.
A vida da poetisa e compositora Fanny Jane Crosby (1820-1915) é tão
impressionante quanto à qualidade e quantidade de seus hinos. Ao todo são
quase nove mil hinos que incentivam a mudança de vida de pecadores, encorajam
cristãos e inspiram toda a humanidade até os dias de hoje. É difícil ficar
passível diante da força das palavras do hino 15 do tradicional Cantor
Cristão, cujo título é Exultação: "A Deus demos glória, com grande fervor, Seu Filho bendito por nós todos deu A graça concede ao mais vil pecador, abrindo-lhe a porta de entrada no céus Exultai, exultai, vinde todos louvar a Jesus, Salvador, a Jesus redentor a Deus demos gloria, porquanto do céu, Seu filho bendito, por nós todos deu!" |
A beleza e o poder contidos nesses versos surpreendem ainda mais por terem
sido escritos por uma mulher que ficou cega com apenas seis semanas de vida.
Sua vida foi a prova de que dificuldade alguma pode conter a unção de Deus, nem
mesmo tirar o prazer de um dos servos. Em outro de seus mais famosos e belos
cânticos, intitulado Segurança, ela escreveu:
"Vivo feliz, pois sou de Jesus,e já desfruto o gozo da luz [...]Canta minha alma, canta ao Senhor,rende-lhe sempre ardente louvor."
Outra curiosidade na vida da maior autora de hinos da história da musica
sacra é o fato de ela ter escrito seu primeiro cântico aos 44 anos.
Infecção nos olhos - Nascida em 24 de março de 1820 no município de
Putnam, em Nova Iorque ,
Fanny tinha pouco mais de um mês de vida quando sofreu uma infecção nos olhos.
O clínico geral estava fora da cidade e um outro médico fora chamado para
tratar do caso. Receitou cataplasmas de mostarda quente e o efeito foi
desastroso: a menina ficaria cega pelo resto da vida. O "médico" teve
de fugir da cidade, tamanha a revolta suscitada entre os parentes e vizinhos do
bebê.
Aos cinco anos, foi levada pela mãe para consultar o melhor especialista no
país, o Dr. Valentine Mott. Uma coleta feita entre os vizinhos pagou a viagem.
O pai de Fanny já havia morrido e a situação financeira da família era muito
difícil. O sacrifício, infelizmente, foi em vão, já que o médico decretou o
caso como incurável. A menina teve então de acostumar-se as dificuldades, ao mesmo
tempo em que demonstrava uma habilidade incomum para compor poesias.
Naquela época, a mensagem do Evangelho foi plantada no coração da jovem
Fanny, por intermédio de sua avó. Era ela quem passava horas lendo Bíblia para
a menina, que demonstrava ter uma memória extraordinária: decorou diversos
trechos do Livro de Rute e dos Salmos. Aos 15 anos, ela entrou para o Instituto
de Cegos de Nova Iorque, para onde voltaria anos depois para ensinar Inglês e
História. Como aluna e professora, Fanny passou 35 anos na mesma escola.
Testemunho de fé - Em 1844, escreveu seu primeiro livro de poemas -
"A Menina Cega e Outros Poemas". Uma de suas primeiras participações
como compositora aconteceu em um dos cultos de Dwight L. Moody, um dos maiores
pregadores da história do Evangelho, que realizava uma conferência na cidade de
Northfield, no estado de Massachussetts. Impressionado com o talento de Fanny,
Moody pediu que ela contasse o testemunho pessoal de sua fé e de seu
relacionamento com Deus. Assustada, Fanny a princípio relutou, mas depois leu a
letra de um hino que acabara de escrever: "Eu o chamo de meu poema da
alma. Às vezes, quando eu estou preocupada, eu repito isto para mim mesma, e
essas palavras trazem conforto ao meu coração, disse ela, antes de recitá-lo."
O hino, é verdade, não é citado em sua biografia, mas isso, de fato, pouco
importa, já que poderia ser qualquer um daquelas centenas de cânticos que
embalaram o avivamento americano no século 19, período que ficou conhecido como
O Grande Despertamento. Naquela ocasião, os momentos de apelo à conversão eram
freqüentemente inspirados por palavras como as do hino Mais perto da Tua cruz,
composto por Fanny Crosby, em 1868:
"Meu Senhor sou TeuTua voz ouvi, a chamar-me com amor [...]mais perto da Tua cruz leva-me, ó Senhor."
Fanny era membro da Igreja Episcopal Metodista, de Nova Iorque. Ela era uma
oradora devota e freqüentemente preparava os cultos infantis da igreja.
Casamento - Em 1858, Fanny casou-se com o professor de música e
cantor de concerto Alexander Van Alstyne. Nessa época, ela havia deixado o
ensino para acompanhá-lo tocando piano e harpa em apresentações públicas.
Compôs diversas canções populares nesse período. Na mesma ocasião, a vida
trouxe-lhe uma das maiores aflições que uma pessoa pode enfrentar: a perda de
um filho. A criança, seu único filho, morrera ainda pequena.
Em 1864, por influência do famoso evangelista, escritor e compositor William
Bradbury, que tem dezenas de canções registradas nos hinários e cantores
cristãos até hoje, Fanny passou a escrever exclusivamente musicas sacras.
Apaixonada por crianças e motivada pela perda irreparável de seu filho, a
compositora criou um estilo próprio: "Achei que as crianças também tinham
de entender as letras e as melodias teriam de ser simples também." Ela
esforçou-se para retratar os temas do céu e o retorno de Cristo com palavras
simples.
Ímpeto criativo - O número extraordinário de composições da autora
pode ser explicado não só pelo ímpeto criativo de Fanny, mas também pelo fato
de ela ter um contrato de trabalho com uma editora, a Biglow & Co., que a
obrigava a entregar três composições novas a cada semana. Ela chegou a compor
sete canções em apenas um dia. Como de hábito, não iniciava seu trabalho sem
antes dedicar horas à oração.
Curiosamente, Fanny não escrevia as letras de seus hinos, por nunca ter
dominado o método Braille. Dona de uma memória extraordinária, memorizava-as
facilmente. Quando morreu, aos 94 anos, amigos e parentes escreveram na lápide
de sua sepultura: Ela fez o máximo que pôde. Sem dúvida, foi uma heroína da fé.
Fonte: Revista Graça, ano 2, n.º 25 – Agosto/2001
(Texto de Marcelo Dutra)
Para quem tiver um bom inglês pode assistir o filme "Fanny Crosby" sem legenda, ou para nós que não temos um inglês tão bom assim, podemos nós contentar com um documentário em espanhol.
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